Poucas bandas conseguem manter sua relevância por mais de três décadas, mas o Green Day, atração do The Town 2025, provou que, quando se tem algo a dizer, somado a coragem para dizer alto, o tempo só fortalece o discurso. Nascido nos subúrbios da Califórnia, nos Estados Unidos, o trio formado por Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool ajudou a redefinir o pop punk para uma nova geração e ainda segue como a fagulha incômoda e barulhenta que desafia o conformismo político e musical.
A trajetória do grupo, que se apresentará no dia 7 de setembro no festival brasileiro, começou com duas decisões cruciais: abandonar a faculdade e apostar tudo na música. Influenciados por nomes como Hüsker Dü, The Replacements, Ramones e Van Halen, Billie Joe e Mike mergulharam no circuito punk alternativo da Bay Area, encontrando no 924 Gilman Street, epicentro da Alternative Music Foundation, um verdadeiro trampolim para o renascimento do punk.
Foi nesse ambiente que surgiu o selo independente Lookout! Records, por meio do qual o grupo assinou seus primeiros contratos, e, também ali, nasceu o nome “Green Day”, alusão bem-humorada à maconha que já traduzia, desde o início, o tom debochado e de contracultura que acompanharia a banda. Em 1991, com a entrada de Tré na bateria, o Green Day encontrou sua formação definitiva. O trio abraçava sua sonoridade crua, direta e inclinada ao grunge, mas que já carregava indícios de uma sensibilidade melódica pouco comum no punk da época, base essa que foi essencial para o lançamento de Dookie (1994), produzido por Rob Cavallo, agora pela major Reprise Records.
Começo da fama do Green Day
O disco que sucedeu o álbum de estreia 39/Smooth (1990) e Kerplunk (1992) trouxe uma rebeldia jovem que encontrou eco em uma geração inteira, na qual hits como “Basket Case” e “When I Come Around” ganharam o mundo devido a exibição massiva na MTV e uma apresentação caótica na reedição do lendário festival Woodstock, em 1994, consolidando o Green Day como símbolo de insatisfação na juventude suburbana e abocanhando até um Grammy no ano seguinte.
No entanto, nem todo o caminho foi linear. O álbum Warning (2000), embora sonoramente mais maduro, foi recebido com frieza. O disco, apesar de coeso, foi percebido como um dos pontos mais fracos da discografia, dando início a um período de incertezas, e, em 2003, a banda enfrentava um impasse existencial: ou reciclava fórmulas, ou dava um salto criativo.
Foi nesse contexto que surgiu o icônico American Idiot (2004). Frustrados com a política estadunidense e a alienação cultural promovida pela televisão, o Green Day apostou em uma ópera rock conceitual e ambiciosa. Inspirado tanto por musicais da Broadway, como West Side Story e Grease, quanto por artistas contemporâneos como o Linkin Park, o grupo moldou uma obra que combinava riffs explosivos, baladas emocionais e narrativa lírica complexa. Mais do que reinventar seu som, o grupo apresentou uma nova possibilidade para o punk: uma poética rebelde e politizada, sem abrir mão da acessibilidade.
Essa busca por influências próprias os levou a revisitarem suas raízes nos álbuns Nimrod e Insomniac, equilibrando agressividade e vulnerabilidade, atitude e melodia, e, dessa forma, o Green Day provou que o punk era mais do que velocidade e distorção, era também narrativa, posicionamento e coragem artística. Mais do que reinventar o som, a banda reinventou o discurso punk. Se antes o punk era puro gesto, a banda californiana provou que também poderia ser verbo: uma lírica combativa, sensível e crítica.
A mais pedida nos karaokês
Talvez uma das músicas mais sensíveis da carreira de Billie Joe Armstrong, “Wake Me Up When September Ends” transcendeu a categoria de balada emo e se estabeleceu como um registro doloroso e honesto de sua juventude marcada pela ausência. A faixa destoa da estética explosiva do álbum ao assumir uma tonalidade profundamente melancólica e íntima, escrita em memória de seu pai, que faleceu de câncer quando Billie Joe tinha apenas dez anos. A canção, nesse sentido, prova que a rebeldia também pode se manifestar na fragilidade, e que há coragem em transformar memórias dolorosas em arte compartilhada.
Após o impacto cultural e comercial de American Idiot (2004), o trio enfrentou o desafio de sustentar sua relevância na projeção de seus projetos póstumos. Com 21st Century Breakdown (2009), houve o desejo de expandir o conceito de ópera rock com uma ambição lírica e sonora maior, mas não alcançou o mesmo prestígio. A trilogia ¡Uno! ¡Dos! ¡Tré! (2012), embora representasse uma explosão criativa, diluiu a força da banda em meio a experimentações que pouco dialogaram com o espírito crítico que os consagrou. Revolution Radio (2016), por sua vez, marcou um retorno mais contido e consciente, onde a banda reencontra sua voz em meio às ruínas do próprio legado.
Em Saviors (2024), a banda retoma essa herança com maturidade, retoma o tom ácido de outrora com letras que denunciam o fracasso do sonho americano e a decadência de valores sociais. A faixa “The American Dream Is Killing Me”, por exemplo, reafirma que o grupo segue atento às contradições do presente, disposto a denunciar a falência do conservadorismo com o mesmo fervor de duas décadas atrás.
Green Day nos dias atuais
Já em 2025, durante sua apresentação como headliner no Coachella, o Green Day tomou um ato de ativismo ao adaptar a letra de “Jesus of Suburbia”, substituindo o verso “running away from pain when you’ve been victimized” (“fugindo da dor quando você foi vitimizado”) por “running away from pain like the kids from Palestine” (“fugindo da dor como as crianças da Palestina”).
Assim, o grupo fez uma poderosa declaração de solidariedade à população de Gaza, vítima do genocídio cometido por Israel nos últimos anos. O protesto reforça que, para Billie Joe e o Green Day, o silêncio nunca foi uma opção.
A importância da banda transcende o palco e os álbuns. O trio sempre manteve um elo visceral com seus fãs, seja por meio de shows intensos, seja nas letras que verbalizam inseguranças e revoltas geracionais, sem se esquivar de posicionamentos e fazendo da música uma plataforma de resistência. Ter um grupo punk performando no Brasil em um contexto de polarizações e crises sociais reforça o potencial político da arte e faz da banda ter uma das apresentações mais cotadas para a segunda edição do The Town.
Se você quer aproveitar essa oportunidade imperdível, a venda geral de ingressos para a edição 2025 do festival, que acontecerá entre os dias 6 e 14 de setembro, é realizada exclusivamente online por meio da plataforma Ticketmaster Brasil.