A relação do Oasis com o cinema é uma fusão entre estética, narrativa e impacto cultural. A banda, que está prestes a desembarcar no Brasil para cumprir duas datas no estádio MorumBIS, em São Paulo, nos dias 22 e 23 de novembro, não apenas consumiu e se inspirou em filmes como se tornou parte do próprio repertório cinematográfico do Reino Unido.
Em mais de 30 anos, suas canções servem como trilha sonora emocional de uma geração, enquanto seus documentários elevam sua relevância ao status de mito. Filmes como Efeito Borboleta, de 2004, e Snatch – Porcos e Diamantes, de 2000, também ficaram marcados pela adição de faixas escritas por Liam Gallagher e Noel Gallagher em suas trilhas sonoras.
No caso do longa estrelado por Ashton Kutcher, qual fã de Oasis não ficou marcado pela cena, já na reta final da projeção, que toca “Stop Crying Your Heart Out”? Além da canção presente no disco Heathen Chemistry (2002), muitas músicas do grupo de Manchester, na Inglaterra, carregam uma forte relação com o cinema, se tornando uma das facetas mais ricas da história da banda.
Embora o Oasis nunca tenha atuado diretamente em produções cinematográficas convencionais como atores ou compositores exclusivos de trilhas para filmes, como acontece, por exemplo, com Trent Reznor e Atticus Ross, do Nine Inch Nails, sua música, o conceito visual e narrativa pessoal sempre dialogaram intensamente com o universo das telonas.
O cinema, nesse sentido, serviu tanto de inspiração para o imaginário dos Gallagher quanto de veículo para difundir a identidade sonora e cultural da banda. Desde o início, o Oasis demonstrou um cuidado visual que lembrava muito mais a estética cinematográfica do que o padrão de clipes da época. Noel e Liam valorizam imagens icônicas, muitas vezes associadas ao realismo britânico e ao espírito rebelde de filmes das décadas de 1960 e 1970.
Vídeos como os feitos para os sucessos “Whatever”, “Stand by Me” e “The Importance of Being Idle” são exemplos claros dessa influência, com direção de fotografia, cenários e figurinos que remetem ao cinema clássico produzido no Reino Unido e também ao kitchen sink drama (termo que se refere ao movimento cultural britânico do final dos anos 1950 e 1960 que usava o realismo social para retratar a vida cotidiana da classe trabalhadora, frequentemente focando em questões sociais e políticas).
O cuidado visual ampliava a identidade do Oasis e transformava suas músicas em pequenas narrativas cinematográficas. Os Gallagher, dessa forma, sempre foram grandes consumidores de cinema, e tal influência é perceptível nas letras e nas posturas públicas da banda. Filmes cult como Quadrophenia (1979) influenciaram a linguagem audiovisual e a atitude mod que o grupo liderado por Noel e Liam resgatou na década de 1990.
A obsessão do Gallagher mais novo por clássicos do rock no cinema, como Os Reis do Iê, Iê, Iê (1964) e Help! (1965), ambos dos Beatles, moldou sua visão de estrelato: rápida, irreverente e espontânea. Já Noel frequentemente citava diretores e roteiristas da Europa em entrevistas e assumia que via suas composições como “pequenos filmes emocionais”, surgidos de imagens mentais e narrativas internas.
Embora o Oasis não seja uma banda “cinematográfica” no sentido tradicional, suas músicas criam paisagens emocionais que poderiam facilmente funcionar como trilhas sonoras sobre juventude, revolta e identidade, temas recorrentes do cinema britânico.
A relação do Oasis com a telona
Ao longo das décadas, diversas canções do Oasis apareceram em longas, séries e documentários, consolidando a presença do grupo na cultura pop audiovisual. Alguns exemplos marcantes incluem “Wonderwall” e “Champagne Supernova” em produções do final do século XX sobre ser jovem e viver romances.
Outro grande hit da banda, “Don’t Look Back in Anger” apareceu em inúmeros filmes e séries que exploram nostalgia ou momentos de superação emocional. “Supersonic”, “Live Forever” e outras canções, por outro lado, integrou trilhas de produções sobre futebol, cultura britânica e retratos urbanos.
O uso recorrente das faixas transformou o Oasis em um elemento narrativo que evoca imediatamente um período histórico específico: a explosão do Britpop e o espírito de mudança da Grã-Bretanha após o governo da ex-primeira ministra do Reino Unido Margaret Thatcher, que morreu em 2013 e era conhecida por exercer o poder com punho de ferro.
O vínculo mais explícito do Oasis com o cinema se dá, inclusive, através dos filmes produzidos sobre a banda. Entre eles, podemos destacar Supersonic (2016), documentário dirigido por Mat Whitecross que retrata os primeiros anos do grupo, da formação ao auge com os shows históricos de Knebworth em 1996, sendo considerado um dos mais importantes registros cinematográficos da cultura musical britânica do século XXI.
Composto por imagens de arquivo, entrevistas e montagem dinâmica, o filme é estruturado quase como um épico de ascensão heroica, reforçando o caráter cinematográfico da história dos Gallagher. Ao longo dos anos, outros projetos audiovisuais, séries e episódios dedicados ao grupo ajudaram a registrar sua trajetória com um tratamento visual que reforça o alcance do Oasis.
Após o fim da banda, vale lembrar, Liam Gallagher chegou ainda mais perto do universo cinematográfico ao produzir projetos musicais pensados para documentários e participar como personagem central de filmes sobre sua carreira solo, como As It Was, lançado em 2019 pelos diretores Charlie Lightening e Gavin FitzGerald. Além disso, ele já declarou publicamente interesse em atuar ou produzir filmes no futuro.
Aproveitando a temática, a Glow Pop BR pensou em cinco músicas do Oasis que poderiam ser filmes que já existem. Imaginou algo parecido em algum momento escutando a banda? De qualquer forma, confira nossa seleção logo abaixo e opine nos comentários!
5 músicas do Oasis que poderiam ser filmes que já existem
“Champagne Supernova” – A Origem (2010)
O filme de Christopher Nolan se relaciona com a música presente no disco (What’s the Story) Morning Glory?, de 1995, pela sua atmosfera surreal, quase onírica. A letra evoca sensações nebulosas e psicodélicas, combinando perfeitamente com a estética de sonhos.
“Live Forever” – As Vantagens de Ser Invisível (2012)
Estrelado por Logan Lerman e Emma Watson, o longa se baseia no livro de mesmo nome publicado em 1999 pelo escritor Stephen Chbosky, retratando uma jornada deliciosa sobre a sensação de eternidade da juventude e a descoberta de tudo o que está por vir. O clima da canção que faz parte do álbum Definitely Maybe (1994) combina com o tom emocional e libertador do filme.
“Supersonic” – Trainspotting (1996)
A energia crua e caótica do longa estrelado por Ewan McGregor e dirigido pelo premiado cineasta Danny Boyle casa perfeitamente com “Supersonic”. O espírito britpop rebelde combina 100% com o ritmo acelerado do filme, não é?
“The Masterplan” – O Show de Truman (1998)
A letra da música gravada em 1995 e lançada na compilação de mesmo nome em 1999 fala de forma profunda sobre destino e propósito, se relacionando com longa protagonizado por Jim Carrey pelo fato de Truman viver dentro de um “plano mestre”, questionando a própria existência.
“Slide Away” – Blue Valentine (2010)
O filme de Derek Cianfrance envolve um amor intenso que vai se desfazendo, mas ainda cheio de saudade, além de retratar um relacionamento que desmorona, de forma dolorosa e sensível. Tudo se relaciona com a proposta da letra de “Slide Away”, que aborda a vontade de fazer o romance entre duas pessoas dar certo.
