Eu posso dizer, inicialmente, que Uma Noite em Haifatenta, mas tenta muito ser inteligente. O diretor israelense Amos Gitaï optou por discursar acerca do cenário político que seu país vive a partir de uma pequena crônica urbana pelas noites da cidade de Haifa, onde um grupo de indivíduos se reúnem pelo suposto amor à arte em uma boate que também funciona como uma galeria artística, gerida por Laila, a personagem central do longa. A partir desse ponto de encontro, as diferentes moralidades dos personagens, que vão sendo apresentadas um por um na trama, entram em conflito por meio de questionamentos acerca das tensões históricas entre as nações de Israel e Palestina, cada um deles encarnando uma visão enviesada das relações conturbadas entre os povos, que vão de envolvimentos amorosos e sexuais até demonstrações de ódio a partir de censuras artísticas. Com isso, Gitaïdesenha as bases de sua mise-en-scène em sua encenação entre os atores, o que lamentavelmente não sustenta a carga política de sua narrativa.
O diretor não se preocupa em contar essa crônica de uma forma convencional, mas a partir de uma certa formação de núcleos de diálogo, e nessa formação de núcleos que se encontra a base narrativa do filme. No entanto, a individualidade dos personagens é abandonada em prol da construção de uma coletividade conjuntural, onde o que mais importa é a reflexão política e histórica daquelas interações, sendo esse o principal problema do longa. Gitaï tenta introduzir tanta complexidade nos diálogos, que os torna completamente engessados, me parece que cada frase dita pelos personagens é cuidadosamente orquestrada ao longo dos pequenos monólogos, ao mesmo tempo que acaba por reduzir a tamanha profundidade moral proposta pelo diretor, tudo isso culminado em pequenas frases de efeito que anulam aquele realismo típico de uma obra com essa proposta. Se uma história detém seu método narrativo entre as interações humanas de seus personagens, é de se esperar que aquelas conversas estimulem a atenção do espectador, estimulo esse que parece se diluir ao longo do filme.
Uma Noite em Haifa peca ao centrar suas mise-en-scène em sua encenação, buscando uma conexão entre o espectador e aqueles que se encontram em um conflito moral dentro da galeria de arte, porém, a partir do momento em que essa mescla entre o roteiro e as atuações falha em transmitir uma naturalidade entre esses conflitos de uma forma orgânica e real, todo o longa perde todo o seu potencial reflexível proposto, se tornando apenas uma série de conversas evidentemente mecanizadas.
O filme já se encontra disponível nas principais salas do país!
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