Retorno triunfal: ONE OK ROCK ressurge em São Paulo após oito anos

Foto: @kimbrlykoeche | Kimberly Koeche | Glowpop

No último domingo, 13 de abril de 2025, o Espaço Unimed, em São Paulo, foi palco de um reencontro histórico e emocionalmente carregado: o retorno da banda japonesa ONE OK ROCK ao Brasil após oito anos de ausência. A apresentação fez parte da nova turnê pela América Latina e causou um impacto imediato entre os fãs brasileiros — os ingressos se esgotaram em poucas horas, evidenciando a força, fidelidade e saudade acumulada ao longo de quase uma década.

Originalmente marcada para a casa Audio, a performance precisou ser transferida para o Espaço Unimed, que possui mais do que o dobro da capacidade. A mudança se mostrou necessária diante da alta demanda e do entusiasmo de um público que jamais deixou de cultivar sua conexão com a banda.

A apresentação em São Paulo fez parte da turnê de divulgação de DETOX, o 11º álbum de estúdio do ONE OK ROCK, lançado em 21 de fevereiro de 2025. Este novo trabalho chega após um hiato de dois anos e meio desde Luxury Disease (2022), e marca um importante ponto de transição na carreira da banda. Durante o show, a banda não apenas celebrou o retorno aos palcos latino-americanos, mas também apresentou músicas desse novo ciclo criativo, com faixas que refletem a evolução sonora e lírica do grupo. DETOX carrega um simbolismo especial, antecipando a comemoração dos 20 anos de trajetória do ONE OK ROCK, prevista para 2026. A performance no Brasil, portanto, não apenas foi um retorno após longa ausência, mas também um marco no novo momento artístico da banda, que se prepara para revisitar suas raízes com uma maturidade renovada e uma energia vibrante, encantando mais uma vez seus fãs com a autenticidade e intensidade características de sua sonoridade.

A banda japonesa iniciou o show com “Puppets Can´t Control You”, música de seu mais recente disco. Com uma performance energética e precisa, o vocalista Taka (Takahiro Moriuchi) demonstrou carisma e domínio de palco, alternando entre vocais intensos e momentos de emoção contida. Agradecendo incansavelmente e interagindo com o público em diversos momentos, o frontman logo conquistou a plateia com sua espontaneidade e sensibilidade.

Formado em 2005 em Tóquio, o ONE OK ROCK surgiu da união de músicos com diferentes trajetórias. Taka, ex-integrante de uma boyband pop japonesa, decidiu seguir um caminho mais autoral e intenso, encontrando nos colegas Toru (guitarra), Ryota (baixo) e Tomoya (bateria) o equilíbrio ideal para construir um som híbrido, que flerta com o post-hardcore, rock alternativo, pop punk e elementos do emo dos anos 2000. O grupo ganhou notoriedade no Japão com trabalhos como Niche Syndrome (2010) e Zankyo Reference (2011), mas foi com a transição para o inglês e a assinatura com a Fueled by Ramen que a banda conquistou o mercado internacional.

O setlist apresentado em São Paulo refletiu na nova era do grupo. Sucessos como “The Beginning”, “Save Yourself” e “Renegades” foram mesclados a faixas mais recentes como “Make It Out Alive”, “Tropical Therapy” e “NASTY”, criando uma narrativa emocional que oscilava entre momentos de explosão sonora e instantes de introspecção. A seleção das músicas evidenciou a maturidade artística da banda, que consegue transitar entre o peso e a vulnerabilidade com naturalidade e equilíbrio.

A parte técnica do show foi impecável. O sistema de som do Espaço Unimed respondeu à altura da exigência da banda, oferecendo clareza nos vocais e equilíbrio entre os instrumentos, mesmo nos momentos mais intensos. Já os efeitos visuais foram um espetáculo à parte: jogos de luzes e lasers, projeções dinâmicas e um painel de LED em alta definição contribuíram para a imersão do público.

Durante a execução de “Stand Out Fit In” — a única faixa do álbum Eye of the Storm (2019) presente no setlist — o público respondeu com uma energia arrebatadora. O entusiasmo foi tão intenso que Taka, em um gesto espontâneo de conexão com os fãs, desceu até a grade e se lançou sobre a multidão, cantando os versos finais cercado por mãos estendidas e vozes em uníssono. A entrega mútua entre artista e plateia reafirmou algo que se repete sempre que o ONE OK ROCK visita o Brasil: não há nada que se compare ao calor, à intensidade e ao carinho do público brasileiro.

Um dos momentos mais intensos do show foi quando Taka se retirou do palco, deixando a banda conduzir a magia da performance de forma instrumental. Esse gesto não só ressaltou a habilidade técnica e a musicalidade da banda, mas também demonstrou a originalidade do ONE OK ROCK. Durante cerca de dois minutos, os músicos tomaram o controle do palco, com cada um deles se destacando em solos impecáveis e criando uma atmosfera elétrica. Os integrantes orquestraram com maestria seus instrumentos, sobrando genialidade musical, e, mesmo sem a presença do vocalista, o público manteve-se completamente envolvido.

No Encore, a banda retornou ao palco com camisas da seleção brasileira de futebol, uma demonstração simbólica de sua conexão com o público local. As últimas músicas do setlist, como “Wherever You Are”, foram executadas com ainda mais emoção. Taka, em um gesto de agradecimento, convidou três fãs para se juntar a ele no palco e cantar a música, criando um momento único e comovente. Durante essa performance, o vocalista expressou sua gratidão pelo carinho dos fãs brasileiros, um dos quais exibiu uma tatuagem com seu rosto, um sinal claro de sua profunda admiração. Esse momento não apenas destacou a entrega artística da banda, mas também evidenciou a forte e sincera conexão emocional entre o ONE OK ROCK e seu público. Com aplausos e abraços coletivos, a plateia respondeu, criando uma pausa intimista no meio do furacão de energia que marcou o restante do show.

Mesmo com a ausência de algumas faixas icônicas de álbuns anteriores, o show manteve um nível elevado do início ao fim, conduzido por uma progressão musical intensa e bem estruturada. A escolha do repertório, ainda que seletiva, foi eficaz ao criar uma experiência coerente e emocionalmente impactante, sem deixar que a energia caísse em nenhum momento. O ONE OK ROCK conseguiu equilibrar novidade e nostalgia, entregando uma performance avassaladora que provou, mais uma vez, a solidez de sua presença nos palcos internacionais.

O show se encerrou com um bis poderoso, composto por “Matter” e “We Are”. Ao final, o público permaneceu por longos minutos aplaudindo, resistindo a deixar o local, como quem deseja eternizar aquele instante. A promessa de retorno, feita por Taka com o coração nas mãos, soou como um compromisso selado por ambos os lados.

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